1. Definições
Divertículo:
• Uma protrusão sacular da mucosa através da parede muscular do cólon
• A protrusão ocorre em áreas de fragilidade da parede intestinal onde vasos
sangüíneos podem penetrar.
• Tipicamente mede entre 5 e 10 mm.
• Divertículos são na realidade pseudo (falsos) divertículos, pois contém apenas
mucosa e submucosa recobertas pela serosa .
Doença Diverticular
Consiste de:
• Diverticulose – presença de divertículos no cólon
• Diverticulite – inflamação de um divertículo
• Sangramento diverticular WGO Practice Guidelines Doença Diverticular
Tipos de Doença Diverticular
• Simples – 75% não têm complicações
• Complicadas – 25% apresentam abscessos, fístulas, obstruções, peritonite ou
sepse
2. Epidemiologia
Prevalência pela idade
40 anos 5%
60 anos 30%
80 anos 65% [25]
Prevalência por gênero
< 50 anos Mais comum em homens
50&ndash#150;70 anos Levemente mais comum em mulheres
> 70 anos Mais comum em mulheres
Doença Diverticular em Jovens (<40 anos)
A DD é muito mais freqüente em pessoas mais velhas, com apenas 2 a 5% dos casos ocorrendo abaixo de 40 anos. A DD neste grupo mais jovem é mais freqüente em homens, com a obesidade como grande fator de risco (presente em 84 a 96 % dos casos). Os divertículos localizam-se geralmente no cólon sigmóide e/ou no descendente. O manuseio deste subgrupo de pacientes permanece controverso. O conceito de que a DD seria mais “virulenta” em jovens é assunto de debates. A história natural realmente mostra uma tendência à recorrência dos sintomas e uma incidência aumentada de evolução desfavorável, com necessidade de cirurgia.
A cirurgia é freqüentemente o tratamento de escolha para pacientes jovens sintomáticos
(aproximadamente 50%, comparados com 30% de sintomáticos entre todos os pacientes).
Em pacientes jovens sem co-morbidades, a cirurgia eletiva após um único episódio de
diverticulite continua sendo uma recomendação racional.
3. Etiologia
Falta de Fibras Alimentares
A falta de fibras na dieta foi inicialmente descrita como um possível fator etiológico no
desenvolvimento da DD por Painter e Burkitt no final da década de 60. Apesar da
hipótese ser inicialmente recebida com alguma resistência, a sua confirmação foi
demonstrada posteriormente por publicações como o Estudo de Seguimento de
Profissionais da Saúde.
• O risco relativo de desenvolver DD é 0.58 em homens com muitas fibras na dieta.
• A DD é menos comum em vegetarianos.
A teoria atual sobre a fibra alimentar como agente protetor contra a formação de divertículose, conseqüentemente, de diverticulite é:
Fibras insolúveis causam a formação de fezes mais volumosas, que levam a uma
efetividade reduzida nos movimentos de segmentação do cólon. O resultado disso
é que a pressão intraluminal permanece próxima à normal durante a peristalse do
cólon.
Desenvolvimento da Doença Diverticular
Não há evidência de relação entre o desenvolvimento de divertículos e tabagismo, consumo de álcool ou cafeína. Observa-se, no entanto, um risco aumentado de desenvolvimento de doença diverticular associado à dieta rica em carne vermelha e gordura. Este risco pode ser reduzido por uma dieta rica em fibras, especialmente se forem derivadas de celulose (frutas e vegetais).
Risco de Complicações
A DD complicada tem sido observada mais freqüentemente em pacientes tabagistas, que
utilizam AINEs, incluindo o acetaminofeno (paracetamol), são obesos e têm dieta pobre em fibras. A DD complicada não é mais comum em pacientes que ingerem álcool ou
bebidas cafeinadas.
Localização da Doença Diverticular
A apresentação mais típica é a de um pseudodivertículo de pulsão (o divertículo não contém todas as camadas da parede do cólon – a mucosa e a submucosa se projetam através da camada muscular e são recobertas pela serosa).
Há quatro pontos bem definidos ao redor da circunferência intestinal onde os vasos retos penetram a camada de musculatura circular. Os vasos entram na parede a cada lado da tênia mesentérica e na borda mesentérica das duas tênias antimesentéricas. Não se formam divertículos distais à junção retossigmóidea, pois as tênias se coalescem para formar uma camada muscular longitudinal.
Distribuição:
Envolvimento do sigmóide 95%
Apenas em cólon sigmóide 65%
Todo o cólon 7%
Próximo ao cólon sigmóide (mas sigmóide normal) 4%
História Natural
A diverticulose é:
Assintomática em 70%
Leva a diverticulite em 15–25%
Associada a sangramento em 5–15%.
Fisiopatologia
DIVERTICULOSE
Os pontos de penetração dos vasos retos na parede intestinal são áreas de fragilidade da
parede onde uma porção da mucosa e da submucosa (recobertas pela serosa) pode se
projetar. A segmentação pode ocorrer como resultado do aumento da pressão intracolônica em certas áreas. Representa fortes contrações musculares da parede que serviriam para propelir o conteúdo luminal ou interromper a sua passagem. As pressões individuais nas câmaras são temporariamente maiores que aquelas encontradas quando o cólon não está segmentado. A segmentação do cólon na diverticulose é exagerada, causando oclusão de ambas as extremidades das câmaras, resultando em alta pressão em seu interior.
O cólon sigmóide é geralmente afetado, provavelmente devido ao seu menor calibre. A Lei de Laplace explica o desenvolvimento através da equação P=kT/R. (onde P é pressão, k é uma constante, T é tensão na parede e R é o raio). A maioria das complicações, portanto, está localizada nesta área.
O sigmóide e outros segmentos intestinais na doença diverticular tornam-se não
complacentes por diversos mecanismos:
• “Mychosis” – conjunto de alterações que inclui espessamento da camada de
músculos circulares, encurtamento das tênias e estreitamento do lume.
• Elastina – aumento na deposição de elastina entre as células musculares e as
tênias. A elastina também é depositada em uma forma contraída que leva ao
encurtamento da tênia e ao acotovelamento da musculatura circular.
• Colágeno – doenças do tecido conjuntivo, como a Síndrome de Ehlers-Danlos, a
Síndrome de Marfan e a doença policística renal autossômica dominante resultam
em mudanças estruturais na parede intestinal, levando a uma redução na sua
resistência à pressão intraluminal e, portanto, permitindo a protrusão de
divertículos.
DIVERTICULITE
Este termo representa um espectro de mudanças inflamatórias que variam de uma
inflamação local subclínica à peritonite generalizada com perfuração livre de alça.
O mecanismo de desenvolvimento da diverticulite está centrado na perfuração do
divertículo, seja ela micro ou macroscópica. O antigo conceito de obstrução do óstio do
divertículo provavelmente só ocorre raramente. A pressão intraluminal aumentada ou
partículas de comida espessadas podem causar erosão na parede diverticular, que progride para inflamação, necrose focal e perfuração (micro ou macroscópica). A manifestação clínica da perfuração depende do seu tamanho e de quão vigoroso for o seu tamponamento pelo organismo. Perfurações, se bem controladas, resultam na formação de um abscesso, enquanto que o tamponamento incompleto pode levar a perfuração livre.
Diverticulite simples: 75% dos casos
Diverticulite complicada: 25% dos casos (abscessos, fístulas ou perfurações)
Diagnóstico
A maioria dos pacientes apresenta dor no quadrante inferior esquerdo. A
presença de descompressão brusca dolorosa indica algum grau de envolvimento
peritoneal. Febre e leucocitose são outros achados inespecíficos, mas
importantes.
Exame físico
O exame físico pode ser relativamente normal, mas geralmente revela desconforto ou massa abdominal. Sintomas urinários podem sugerir a presença de flegmão pélvico.
Diagnóstico Diferencial
Carcinoma intestinal – pielonefrite
Doença inflamatória intestinal – apendicite
Colite isquêmica
Síndrome do intestino irritável
Doença inflamatória pélvica
Investigações
• Radiografias de tórax e abdome – geralmente não mostram sinais específicos de
DD, mas o pneumoperitônio pode ser visto em 11% dos pacientes com diverticulite aguda.
• A radiografia abdominal é relatada como anormal em 30 a 50% dos pacientes com
diverticulite aguda. Os achados mais comuns incluem:
o Dilatação dos intestinos grosso e delgado ou íleo paralítico
o Obstrução intestinal
o Densidades em tecidos moles sugestivas de abscessos [26, 27]
• O diagnóstico feito apenas com dados clínicos é incorreto em 33% dos casos.
• Do ponto de vista de investigação diagnóstica, a tomografia computadorizada é melhor que a ultra-sonografia.
• A diverticulite é geralmente considerada como uma doença predominantemente
extraluminal. A tomografia computadorizada oferece o benefício de avaliar tanto o intestino quanto o mesentério com uma sensibilidade de 69 a 98% e uma especificidade de 75 a 100%.
• Os achados tomográficos mais observados na diverticulite aguda são:
1. Espessamento da parede intestinal
2. Gordura mesentérica raiada
3. Abscesso associado
Em uma série de 42 pacientes com diverticulite, a tomografia computadorizada
observou:
Gordura com inflamação em raias 98%
Divertículos 84%
Espessamento da parede intestinal 70%
Abscesso pericolônico 35%
Peritonite 16%
Fístula 14%
Obstrução colônica 12%
Tratos sinusais intramurais 9%
Outras investigações
• Achados ultra-sonográficos podem incluir espessamento da parede colônica e
tumorações císticas.
• Enema contrastado – no quadro agudo, é reservado especialmente para quando o diagnóstico não está claro. Tem uma sensibilidade de 62 a 94% com uma taxa de falsos negativos de 2 a 15%. O diatrizoato de meglumina é um contraste
hiperosmolar que pode assistir na suboclusão intestinal, se estiver presente.
• Endoscopia – proctossigmoidoscopia / sigmoidoscopia flexível. O uso de procedimento endoscópico, com a inerente insuflação de ar, é relativamente contra-indicado no quadro agudo pelo aumento no risco de perfuração intestinal.